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[CANTO DE LU] Homenagem a Dr. Guilherme Robalinho

Dr. Robalinho em visita a um dos hospitais geridos pela Secretaria de Saúde de Pernambuco. Na foto, também presente o querido Dr. Gentil Porto, diretor de saúde, também já falecido.

| Por Lu Rabelo* |

Acabei ser informada que Dr. Robalinho faleceu. Tomei um susto. Me vem um chôro saudoso e profundo.

Comecei a trabalhar com Dr. Robalinho em 1997/1998, quando era estagiária de jornalismo da Secretaria de Imprensa da Prefeitura do Recife. Na época fui designada para ficar fazendo a cobertura da Secretaria Municipal de Saúde.

Naquele tempo, a Saúde pública no Recife vinha recebendo importantes investimentos, e Robalinho não parava, se dedicando inteiramente à missão que assumiu. Seu queridinho era o Programa de Agentes Comunitários de Saúde que vinha avançando no Recife com destaque nacional.

Com todo o gás de quem está começando, comecei a aplicar no meu trabalho na prefeitura todo o aprendizado que estava tendo na Oficina de Notícias, com a jornalista Regina Perrusi, onde estagiava no turno da tarde. Todos os dias era publicado algo positivo da Secretaria de Saúde do Recife na mídia e Robalinho estava bem satisfeito, e eu também.

Até que um dia, 26/09/1998, meu aniversário, algum veículo de comunicação me solicitou o número de casos de cólera no Recife e eu passei os dados sem comunicar ao secretário, apenas com a autorização da diretora de Epidemiologia da época. Robalinho ficou puto comigo, me deu um esporro e eu fiquei arrasada. Comecei a perceber mais claramente que não era muito fácil trabalhar com ele. Mas fizemos as pazes.

No final de 1998, Robalinho já estava indicado para ser o Secretário Estadual de Saúde de Pernambuco, pois Jarbas havia vencido para governador. Fui me despedir dele, levando o clipping de tudo que havia sido publicado na mídia impressa naquele ano sobre a Secretaria de Saúde do Recife. Um calhamaço!

Pouco antes de assumir a Secretaria Estadual de Saúde (SES), ele entrou em contato comigo, me convidando para ser uma das assessoras de imprensa da SES, já que a secretária de Imprensa, Terezinha Nunes, também tinha um nome. Terezinha bateu o pé pra botar quem ela queria e ele bateu o pé pra me botar. Ficamos duas assessoras.

Vi que ele confiava mesmo no meu trabalho, porque eu, recém formada, 25 anos de idade, toda ‘hippie’ e, ainda, eleitora do PT…

Poucos meses depois, já houve mudanças e fiquei eu e Dani Freitas (também uma pessoa indicada por ele) à frente da Assessoria de Imprensa da SES, junto a uma equipe maravilhosa, que morro de saudade. Trabalhava de segunda a segunda, de manhã, de tarde e de noite, assim como ele e sua equipe mais próxima.

Ele não era fácil e praticamente todos tinham um certo medo dele. Era sempre tenso quando o telefone tocava e Vevé (secretária dele na época) dizia: ‘Robalinho tá te chamando’. Mas apesar das dificuldades a gente se dava bem. Eu confiava nele e o admirava muito pelo seu imenso empenho e dedicação em melhorar o SUS.

De alguma forma ele também entendia o meu jeito. Sabia, por exemplo, que quando havia algum evento no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano (mais conhecido como Tamarineira), eu não voltaria mais pra SES, pois passaria o resto do dia por lá. Ele também me apoiou quando quis criar o ‘Criativamente’, jornalzinho que fizemos junto com os usuários e equipe do Centro de Artes lá do hospital psiquiátrico.

Certa vez as ‘doutoras’, os braço direito dele (Cláudia Zírpolli, Lúcia Helena e Silvana), vieram dizer que o secretário gostaria que eu usasse umas roupas mais arrumadas e tals. Mas num tinha jeito não e ele acabou aceitando o meu desmantelo.

Foram mais de 5 anos trabalhando juntos. Os colegas de mídia diziam não saber como eu aguentava o temperamento dele. E ele, em algumas discussões, dizia que eu era a única pessoa da Secretaria que o rebatia. Até que num desses embates entreguei o cargo.

Passaram-se alguns dias e ele veio me propor para eu não sair, tirar uma férias. Mas a questão ali já era outra. Não me via mais passando número de dengue e leptospirose pra Imprensa. Queria trabalhar em outras missões. Escrevi então uma carta pra ele, contado de meus anseios e também revelando a minha ETERNA GRATIDÃO a ele, e segui pra outros rumos profissionais. Isso foi em agosto de 2003.

Ainda hoje sonho com ele e com a Secretaria, tamanha a intensidade das vivências. Como fui feliz naquele tempo, convivendo com pessoas tão especiais. Como aprendi! Como sou grata ao senhor, secretário! Sua confiança em mim, lá no comecinho de minha carreira, foi fundamental para minha autoconfiança, pro meu fortalecimento profissional e pessoal.

Nutria a esperança de reencontrá-lo e poder novamente lhe agradecer. Mas hoje levei uma rasteira.

Acendo aqui neste momento uma vela para que sua passagem seja de muita luz. Sua missão cá na Terra foi imensa. E sua garra também!

Com amor, Luciana.

*  Lu Rabelo é cantadeira, arteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.

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