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[CANTO DE LU] Emoções encapsuladas

| Por Lu Rabelo* |

Há cerca de um mês, apalpando minha mama esquerda achei algo estranho, tipo um caroço. Uma grande nóia desde então tomou conta de mim, com medo de ser um câncer. Em 2005, Silvana, minha irmã mais velha, na época com 39 anos, morreu depois de uma luta de dois anos contra o câncer, que começou numa das mamas e se espalhou. No caso dela, o tratamento convencional não adiantou.

Logo que senti o caroço, pensei: se for algo grave não vou me submeter a cirurgia, nem quimioterapia, nem radioterapia. Se chegou minha hora de morrer, então pronto.  Mas aí depois refleti que estava sendo extremamente egoísta e covarde. Várias reflexões existenciais me tomaram esses dias.

Até então isso tudo se passando dentro de mim e eu sem dizer nada a ninguém. E nisso, meus sonhos já querendo virar pesadelos, com uns homens sinistros dizendo coisas que eu não queria ouvir.

Resolvi desabafar com um amigo, que, claro, me aconselhou procurar logo um médico pra fazer os exames. Me dei conta que tava mesmo é com medo de procurar a medicina convencional. Não queria ser vista e cuidada de forma fragmentada.

Fiquei ainda uns dias relutante em marcar a ultrassonografia e a mamografia. Tava com muito medo do diagnóstico. Me senti extremamente vulnerável.

Comecei a fazer pesquisas na internet e tive a graça de encontrar uma entrevista sobre Oncologia e Ayurveda, e ao ouvir a médica que estava sendo entrevistada (Dra. Paola Tôrres), me senti mais segura, no sentido de que ainda existe na medicina profissionais com uma visão integrativa. Pensei: qualquer coisa, se for grave, vou atrás dela. Foi um alívio saber da existência dela, pois se fosse preciso eu já tinha a quem recorrer.

Aí tomei coragem, contei a minha sobrinha o que tava acontecendo, e ela foi comigo numa mastologista aqui no Recife ‘tida como ótima’. Me admirei que na consulta a única coisa que a mastologista me perguntou foi se havia casos de câncer na família. Eu ainda tentei falar do meu estilo de vida, quis contar a ela dos cuidados que já estava tendo, como estar há três meses sem laticínios, ter parado o tabaco, ter voltado a me exercitar… mas ela me cortou e disse: “vou anotar aqui que você é natureba!” E eu que tinha levado as datas dos meus últimos ciclos menstruais bem anotadinhos. Mas ela nada perguntou sobre isso. Pedi a ela pra me passar uns exames hormonais, vitaminas, minerais…Ela disse que não precisava de nada disso. Apalpou os meus seios e me deu as requisições das ultrassonografias de mamas e axilas e da mamografia. Saí de lá agoniada.

Já que tinha que fazer mesmo esses exames, consegui um encaixe e fui fazer no mesmo dia. Estava me sentindo muito vulnerável e com medo. Pensei muito no que minha irmã tinha passado. Fiz a mamografia (nunca tinha feito, apesar dos apelos midiáticos pela minha idade e histórico familiar) e em seguida a ultrassom. E foi aí que fiquei mais aliviada, pois a médica da ultrassom disse que eu não precisava me preocupar, pois o que eu tinha eram cistos formados por líquidos, não eram tumores malignos (além do ‘caroço’ que eu havia apalpado, o exame identificou outros cistos menores em minhas mamas).

De toda forma, ainda estava meio apreensiva porque faltava pegar o resultado da mamografia. Hoje fui pegar os resultados e levar pra mastologista. Quando ela viu, rapidamente, os resultados, disse que não era nada grave, mas antes mesmo de eu respirar aliviada, ela pegou o receituário e me aconselhou a procurar uma oncogeneticista, que iria fazer um exame que diria as chances de eu ter câncer em determinados órgãos para que, por precaução, eu pudesse me antecipar, e citou o caso de Angelina Jolie que fez mastectomia nos dois seios, como forma de prevenção, após receber o resultado de um exame desse. Eu disse à médica que não precisava me passar o contato da oncogeneticista porque eu não iria de forma alguma fazer este exame. Ela insistiu me entregando o papel. Fiquei atônita.

Ainda tentei conversar com ela pra saber as causas dos cistos de mama. Ela respondeu: “somos feitos de água e terra e essas coisas acontecem”. Perguntei se havia algo que eu pudesse fazer para me curar e evitar que novos cistos aparecessem, ela disse: “você já é magra…”

É fato que saí do consultório aliviada de não estar com câncer de mama, mas estava triste de continuar constatando os absurdos dessa medicina esquisita. Entrei no carro e chorei, chorei. Depois fui comprar umas ervas que sei – graças aos conhecimentos de nossas ancestrais – que podem ajudar a curar essas ‘cápsulas de emoções’ que estão nas minhas mamas, bem próximas de meu coração.

No tratamento que venho me auto-receitando, além das mudanças de alguns hábitos nocivos que ainda mantinha, e de incorporar práticas de autocuidado, também passei a estar mais atenta à necessidade de expressar minhas emoções, à importância de chorar, e voltei a criar através da Arteterapia, pois, como diz a poeta e filósofa Viviane Mosé, “nódulos são poemas presos”. (Escrevi sobre isso no meu artigo de conclusão da pós-graduação em Arteterapia, que pode ser acessado neste link).

Senti vontade de relatar neste texto o que me ocorreu, primeiro pra alertar outras mulheres que achar um caroço na mama não quer dizer que é um tumor maligno, então não precisa sofrer por antecipação como eu sofri. Segundo, que, caso seja algo grave, há ainda médicas (os) com consciência, poucas (os), mas existem. Terceiro, pra dizer, pra quem ainda não sabe, que existe a Ginecologia Natural, que enxerga a gente como ser integral e respeita nossos ciclos, levando em conta nossas emoções e nos empoderando. E, por fim, pra que a gente se lembre sempre que somos responsáveis pela nossa vida e pelas nossas escolhas.

*Lu Rabelo é cantadeira, arteterapeuta, jornalista e editora do Portal Flores no Ar.

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