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[CAMINHO SIMPLES] Pelo direito de escutar

Foto: Flora Negri (@floravnegri)

Por Caminho Simples |

Numa época de expressões diversas, numa carência de espaços representativos, e de falas exaltadas, o feminino continua a esperar.

Passamos da opressão absoluta da força masculina externa para a repressão interna do feminino em nós: homens e mulheres. Se antes parecíamos estar lutando contra um oponente fora, agora esse extremismo continua atuando dentro. Trocamos guerra dos gêneros por conflitos internos entre crenças e referências, mesmo que não percebamos. Ainda estamos abusando do masculino e repreendendo sua real força e expressão porque não deixamos o feminino fluir em nós.

Um dia desses participei de uma reunião de grupos que promovia o encontro entre trabalhos de fortalecimento do feminino e do masculino em separado. Estava lá como convidada, não participava de nenhum dos lados. Sim, lados. Parecia mais uma vez uma guerra. Vi mulheres se expressando de maneira feroz e ativa. Vi homens se defendendo, pedindo espaço para o sentir. Ainda era um debate e não uma dança. Que pena.

Saí com a sensação triste de ainda não haver diálogo entre duas energias belas e complementares. Onde foi parar a dança dos polos? Será que ela um dia existiu?

Desafiador deixar as armas de lado e realmente dançar o amor. Tão fácil, tão natural, tão simples, e justamente por isso resistimos tanto. Levantamos as bandeiras dos pólos e esquecemos que um lado precisa do outro, não somente para expressar-se mas também para existir. Masculino e feminino atuam e se integram. Um é o outro, o outro é o um. Se há harmonia, há nos dois lados. Se há distúrbio, coexiste nas duas formas. É uma ressonância, uma afinidade energética além das nossas vontades míopes.

De qualquer forma, sinto um alívio quando penso que essa inversão de gêneros e energias sexuais seja um passo na direção de um equilíbrio. Mas aqui, sem dúvidas, é a energia feminina que carece de espaço seja em mulheres ou em homens.

A energia feminina se caracteriza pela atuação majestosa do acolher, do gestar, da alquimia interna. Seu palco é introspectivo, passivo, sensível, aquoso. Sua expressão é oculta e sua manifestação toca o mistério. Não há uma lógica cartesiana. Não há linearidade. Há encantamento, ciclos, sincronicidade e beleza.

Mas como atuar nessa energia em um campo de valorização social que só vê o externo, o ativo, a concretude das coisas? Tendemos a acreditar que o passivo, o interno, o mágico é menor. Não percebemos que não há expressão criativa sem a sensibilidade. Não há paz em nossas atitudes sem alquimia interna. Não há força sem suporte. Não há voz sem escuta.

Que além da dualidade entre feminino e masculino, passemos a integrá-los em nós. Que possamos enxergar o valor do passivo para acolher a direção do ativo em nós. Que saibamos nos abrir e sentir para poder gestar o novo em nós. Que paremos de revidar as agressões dos pólos para beber dessa fonte de unidade em nós. Em nós!

Assim, poderemos enfim conversar, ouvir, falar, agir, sentir, criar, dançar com o outro.

Quando eu for masculina, seja meu ventre.

Quando eu for feminina, acolherei a sua direção.

Podemos dançar juntos então?

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