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[CAIXA DE PANDORA] Páscoa: Morte e Renascimento em Nós!

Por Juliana Florencio* |

A Páscoa nos traz o tema da Morte e Ressurreição de Jesus.

Como diria Jung, poucos, dos que se consideram cristãos, entendem e vivenciam “as boas novas”. No caso da Paixão de Cristo, a maioria recebe a mensagem como uma experiência desconectada de si mesmo.

Muitos assistem o sofrimento de Cristo, sua tortura e sua morte com piedade por alguém que sofreu as injustiças desse mundo. Poucos entendem esse período de intensa dor como um processo de transformação para que Jesus cumprisse sua missão divina.

Jesus, nos seus últimos dias, viveu momentos de extrema angústia, desespero e solidão. Quando retirou-se ao monte para orar, convidou seus discípulos para estarem com ele, mas estes acabaram adormecendo. A angústia de Jesus era tamanha que ele suou sangue. Ele sabia o que o esperava: o enfrentamento da morte em si e todo o lado sombrio da vida, de maneira real e consciente, sem qualquer subterfúgio, ilusão ou anestesia.

Foi entregue aos soldados romanos por um de seus companheiros, Judas. Pedro que, pouco antes, afirmou veementemente que nunca abandonaria o mestre, o negou três vezes. Foi julgado injustamente, torturado e humilhado publicamente. Escarnecido nos sentidos mais intrínsecos da sua fé: o coroam com espinhos.

Jesus experienciou no corpo a dor visceral da tortura. Vivenciou na alma toda a perversidade de que o ser humano é capaz. Sua solidão era tamanha que, em agonia de morte, perguntou a Deus: “Pai, por que me abandonaste?”

Sua morte não encerra seu sofrimento, pois desceu ao inferno para enfrentar Satanás.

Antes de ressuscitar, ao terceiro dia, continuou no reino dos mortos.

E, então, ressuscitou como Deus. Cumpriu-se a promessa.

Podemos olhar para a Paixão de Cristo, não como expectadores de um drama ou com uma culpa cristã que, muitas vezes, nos é cultivada. Podemos, como Cristo, realizar a nossa própria promessa: nos tornarmos o que nascemos para ser.

Num momento em que nossa sociedade volta-se ao culto do “Pensamento Positivo” e que queremos acreditar que nosso desejo pode determinar os rumos do Universo, a vida de Jesus nos traz um paradigma diferente.

Para que Jesus pudesse ser Deus, houve uma morte antes.

Jung trouxe para a psicologia as imagens da Alquimia. A Nigredo é a fase alquímica em que o elemento trabalhado morre e se decompõe. Essa etapa é também conhecida como “A noite escura da alma”.

Na Nigredo, nos deparamos com as nossas sombras (aspectos nossos que rechaçamos) e com as sombras coletivas também. É como um abrir de olhos doloroso para o lado obscuro da vida.

Esta fase não tem como não estar associada ao sofrimento, a conteúdos de morte e ao luto. Afinal, há a constatação de que nem eu, nem o mundo, somos tão bons e iluminados como achávamos que fôssemos.

Dessa forma, vivemos dentro de nós uma morte que muitas vezes sentimos como real – a Nigredo muitas vezes é vivida como uma depressão.

Mas, essa morte é necessária para a transformação. Nos damos conta do que em nós precisamos nos despedir, deixar morrer.

“Você não se torna iluminado imaginando figuras de luz, mas sim ao tornar a escuridão consciente. Porém, esse procedimento é desagradável, portando, não popular.” C. G. Jung

E então, como um milagre, o Renascimento acontece.

Acordamos para o que nascemos para ser.

Jesus podia ter declinado da sua morte, mas não o fez, pois confiava em algo maior que ele.

“Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo”. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”. “(Mateus 26: 38, 39)

Viver o Cristo não é para todos, assim como tornar-se si mesmo também não é.

Como Bert Hellinger afirmou “É preciso abrir mão do que queremos para recebermos o que realmente necessitamos.”

É preciso abrir mão de parte de nós mesmos para que a grande obra (a Opus) se realize.

Minha mensagem de Páscoa é que sigamos com fé e esperança para que possamos viver o milagre dos nossos Renascimentos!

* Juliana Florencio é psicóloga, arteterapeuta e terapeuta do Jogo da Areia (em formação). Atualmente mora na região de Stuttgart, Alemanha, onde realiza seus atendimentos.
Email: juflorenciocs@gmail.com

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