Fique por dentro das novidades do Flores no Ar!

Arquivos

Flores no Ar Logotipo do Portal Flores no Ar

[CAIXA DE PANDORA] NATAL INVERTIDO

Foto: Frans van Heerden (CC Pexels)

Por Juliana Florencio* |

Acontece uma coisa esquisita com muitas pessoas no Natal. Há uma expectativa de que algo extraordinário, até mesmo miraculoso, aconteça na noite de 24 de dezembro e, como isso não ocorre, as pessoas ficam tristes.

Isso poderia ocorrer devido às lembranças da espera de Papai Noel. Tais resquícios associam presentes há algo mágico, afinal o ‘bom velhinho’ é uma lenda.

Muitas pessoas sentem-se tristes pelos familiares que já morreram; parece que isso fica mais forte no Natal, o que é uma contradição, pois em todas famílias há pessoas que já se foram e a data na sua essência comemora um nascimento.

Os mais pobres ficam tristes porque não podem presentear seus queridos da maneira como gostariam, e nem podem ter uma ceia de propaganda de televisão.

O Natal do jeito que tem sido celebrado, na minha opinião, é a festa da falta: faltam os presentes desejados, falta a ceia ideal, faltam as pessoas que já morreram, falta união nas famílias… e, principalmente, falta o milagre prometido.

É uma grande contradição, pois o presente já teria sido dado: o menino Deus entre nós.

Refugiado, não-branco, pobre, nasceu entre os animais, pois ninguém quis dar abrigo àquela família.

A dádiva, o milagre da vida, o sentido da criança divina foram substituídos pelo desejo das coisas que não temos.

Vejo as pessoas em dezembro numa maratona de confraternizações e compras que as levam a um estado de euforia e desviam o foco da reflexão. Entram quase que num automatismo.

Mas por que o Ocidente comemora o nascimento de Jesus?

O Cristo veio para ser o Salvador.

E o que isso significa?

Significa dar sentido à vida.

Ao invés de olharmos para aquela criança e o sentido da sua vinda pra terra, nos distraímos de nós mesmos e do sentido da nossa vida.

O capitalismo entendeu a importância deste símbolo para a psique e busca substituí-lo por produtos. Dessa forma, há uma inversão: a dádiva é negligenciada e o consumismo toma seu lugar, aguçando o sentimento de falta e os excessos para supri-la.

O presente já foi dado. É místico. Veio em meio a adversidades, como a vida real é, mas mesmo assim encarnou-se. Esse é o milagre!

O menino-Deus nos traz a mensagem do sentido da vida, do que realmente é importante.

Que possamos nos conectar com esta imagem do presente divino, da criança salvadora e entendermos que o que nos falta, muitas vezes, é encontrar o sentido.

* Juliana Florencio é psicóloga, arteterapeuta e terapeuta do Jogo da Areia (em formação). Atualmente mora na região de Stuttgart, Alemanha, onde realiza seus atendimentos.
Email: juflorenciocs@gmail.com

Leave a comment