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As Iamuricumá: as mulheres sem o seio direito

IamuricumáAs Iamuricumá realizaram uma grande festa para furar a orelha dos meninos. Depois da festa, uma parte da aldeia saiu para pescar. Os pescadores levaram grande quantidade de beiju para comer. Os pesqueiros eram bem distantes da aldeia. Chegando lá, bateram timbó e começaram a pegar muitos peixes. Os dias iam passando e os pescadores não voltavam. Estavam demorando muito. Os meninos que tinham furado a orelha estavam ainda de resguardo, esperando os peixes que os pais tinham ido buscar. Mais de uma lua já tinha passado e os pescadores não voltavam. Um homem da aldeia que não tinha ido pescar com os outros, o filho do morereguát (chefe), resolveu ir atrás para ver o que tinha acontecido. Pediu beiju para a viagem e foi. Quando chegou ao pesqueiro, os pescadores esconderam os peixes. Não queriam que ele visse. Estavam estranhos, numa algazarra medonha. Pareciam porcos e outros bichos do mato. O filho do morereguát não gostou e voltou para trás. Chegando de volta à aldeia, disse que os pescadores ainda iam demorar dois dias na pescaria. Mas para a mãe ele contou a verdade, dizendo que o pai e o resto do pessoal estavam era virando coisa, virando bicho do mato.

A mulher do chefe, então, mandou que todas as mulheres preparassem beiju para fazer a festa e cortar os cabelos dos filhos, dos meninos que tinham furado a orelha. Depois de prontos os beijus, colocaram os bancos na praça da aldeia, todas juntas, para sentar os meninos e realizar a cerimônia do corte. Não precisavam esperar pelos peixes. Depois que terminou tudo, a mulher do chefe falou para as outras mulheres que elas não podiam ficar mais ali. Tinham de sair daquele lugar, porque os maridos não eram mais gente, estavam virando bicho. Todas as mulheres passaram a noite a conversar e decidiram ir mesmo embora. Passaram dois dias se arrumando, arranjando as coisas: enfeites, colares, cordéis de algodão para amarrar nos braços. A mulher do morereguát, primeiro que as outras, começou a se adornar com penachos, braçadeiras e colares, e a se pintar com urucum e jenipapo. Depois de inteiramente ornamentada à maneira dos guerreiros, começou a cantar, guerreira que era. Cantando, subiu até o alto de uma casa e lá continuou cantando. Uma outra mulher, igualmente enfeitada, escalou outra casa e lá do alto começou a cantar também. Em seguida, sempre entoando seus cantos, desceram as duas para a praça da aldeia, onde todas as outras, já adornadas e pintadas, tomaram parte no canto. Aí começaram todas a passar veneno no corpo, para se transformarem em mamáe (espírito). Por isso hoje, no lugar onde residiam as Iamuricumá, ninguém pode tirar cipó, raiz ou outra coisa qualquer da natureza. Quem fizer isso enlouquece e se perde para nunca mais aparecer.

Os cantos e danças na aldeia se prolongaram por dois dias inteiros. No segundo pôr-do-sol, sem interromper nunca o canto, as Iamuricumá começaram a caminhar e a se afastar devagar. Antes disso, agarraram e vestiram um homem velho com o cascão do tatu-açu. Colocaram viradores de beiju na mão dele e mandaram que seguisse em frente, abrindo os caminhos na terra. Mais adiante as mulheres passaram pelos maridos que estavam pescando. As crianças pequenas iam carregadas. Os pescadores pediram às esposas que parassem para os meninos comerem peixes. As mulheres não atenderam e continuaram o seu caminho. Cantando, enfeitadas de penachos e pintadas de urucum e jenipapo, afastavam-se cada vez mais, espíritos de canto e dança. Mais adiante passaram pela aldeia Macão-acáp. Era no meio do dia. O chefe do lugar pediu ao seu pessoal que ninguém olhasse, para não ser levado pelas Iamuricumá. As mulheres não obedeceram ao chefe e olharam, e as Iamuricumá levaram todas elas de boa vontade. Os maridos que seguiram atrás também foram arrebanhados. Mais à frente passaram por outra aldeia de nome Etapemetáp. O chefe fez a mesma recomendação, mas sua gente não obedeceu, e também foi arrebanhada.

As Iamuricumá continuam viajando, viajando sempre. Até hoje as Iamuricumá caminham, sempre enfeitadas e cantando. Usam arco e flechas para caçar e se defender e não têm o seio direito para melhor manejar o arco na luta.

Fonte: Villas Boas

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